sábado, 4 de setembro de 2010

Rafael, Um Anjo em Minha Vida ***

Hoje para celebrar a marca de 100 textos*** no Recantos das Letras e escolhi falar da minha mais incrivel obra: o Meu filhotinho... um Anjo chamado Rafael
Se estivesse vivo, hoje dia 04/09 completaria cinco aninhos...

Amor de mãe é assim...incondicional...
Por nossos filhos movemos Céu e Terra...
Por nossos filhos somos capazes de dar a vida, embora ela não nos pertença... Mas, nessa tentativa, lutamos além do nosso limite para aliviar qualquer instante de dor...
E viramos o mundo do avesso só para vê-los sorrir...

Para mim era exatamente assim...
As raras ocasiões em que meu doce Rafa abria os olhos... ele iluminava o mundo...

Mel Braga, a Protegida por um Anjo ***




Esse é o caminho para a Terra do Nunca *** .


Era meu primeiro filho... e eu tive o maior cuidado do mundo em acompanhar cada segundo da minha gestação... fiz um acompanhamento rigoroso... e no terceiro mês... descobri que meu filhinho tinha um problema na bexiga... o que nos obrigou a fazer acompanhamento com a medicina fetal...

Deus é tão maravilhoso que, na época, meu convênio cobria as despesas com a melhor equipe da América Latina... a equipe do Dr. Antonio Moron, referência em Medicina Fetal... e os únicos que faziam cirurgia intra-uterina...
O tratamento exigia que fôssemos a São Paulo pelo menos uma vez por semana durante a gravidez para acompanhamento médico...

Com a proximidade do parto, me hospedei na casa da Tia Celina, pois era próxima ao hospital, evitando que eu percorresse o longo caminho do litoral paulista até a capital.
Durante esse período, fizemos duas Derivações (cirurgia intra-uterina para colocar uma válvula) e quatro procedimentos (amniocentese e retirada e implante de líquido amniótico)... sendo o último antes do parto....

Após nascer, o Rafa passou 43 dias na UTI... e eu praticamente não tive dieta... porque queria estar do lado dele em tempo integral... coisa que agradeço ao Hospital Santa Joana, que permite a permanência dos pais das 9:00h às 21:00h...
Como éramos muito queridos pelo pessoal da UTI... sempre ficávamos um pouco mais aos sábados e aos domingos... mas, durante a semana, eu ficava só até as 17:00h ou 17:30h...

Acompanhei cada instante dele... e nesse meio tempo depois que nasceu... o Rafa fez mais quatro cirurgias...
Soubemos sobre a terceira cirurgia próximo ao dia das crianças, pois ele estava rejeitando o leite, e queriam fazer uma investigação para saber se havia alguma obstrução no estômago...
Meu coração não queria que houvesse aquela cirurgia... fiquei doente por três dias... mal conseguia ficar em pé... e não entendia a razão do meu mal estar... (coração de mãe sente... e sente adiantado) mas, não saia de lá...
Ele foi operado no sábado dia 14/10... E o que era para ser apenas uma investigação, transformou-se numa cirurgia de cinco horas...

Ficamos com ele até as 16:30... ele saiu da cirurgia perfeitinho... antes de ir embora... olhei para ele e disse:
“Filho... que bom... agora você vai poder papar... e logo, logo a gente vai embora...”
Fomos para a casa do George, um grande amigo com quem passamos os últimos quinze dias após o parto....

Estava me preparando para jantar, quando meu celular tocou... fiquei estática ouvindo o médico me dizer que ele havia piorado... e teve uma parada cardíaca...
O Dr. Ricardo me pediu para voltar ao hospital...
Naquele instante, imaginei que meu Rafa já havia falecido...
Corremos para o hospital... chegando lá... olhei na incubadora e ao ver meu menininho... disse a ele...
“Filho... você não foi embora...”

Aos poucos, percebi que o bebê que encontrei já não era o bebê que havia deixado na incubadora... estava todo machucadinho devido às agulhas dos medicamentos... sua veia era fininha, assim como a minha...
Viramos a noite acompanhando cada batimento cardíaco... cada picada... cada reanimação... cada sofrimento com sua singular e infinita particularidade....
Meus olhos se fixaram no cardiograma... de tal forma que até hoje, ao fechá-los, ainda posso ver claramente a máquina...

Por volta das cinco e meia da manhã os cirurgiões chegaram... e entre deixar morrer e tentar... fizeram o que deveria ser feito...tentaram, e o operaram pela quarta vez...
Após a cirurgia... ficamos com o Rafa... e houve um momento em que parei pra contar... e vi que entre medicamentos e equipamentos conectados ao meu bebezinho... de apenas um mês e meio... haviam quatorze fios e mangueiras....

Por volta das 16:30h... a médica pediu que fôssemos descansar... e disse que se tivessem alguma novidade, nos ligariam... E claro, não ligaram...
Só um coração de mãe para não enxergar que tudo tinha sido feito... seria só uma questão de tempo... pois, até hemodiálise ele teve que fazer...

Depois de algumas horas, quando voltamos para o Hospital... cheguei juntinho do meu doce Rafael... e disse a ele...
“Descansa meu amor...”
O cardiograma deu seu último batimento e zerou diante dos meus olhos... e ali, naquele instante, meu Rafael foi para o colinho do Papai do Céu...

Do meu filhotinho, eu só tive um vez de cada coisa:
Ele esteve em meus braços uma única vez, quando numa troca de incubadora, eu disse à enfermeira:
“Você está tendo um prazer que eu nunca tive... o de segurar o meu bebê”
Escondida, ela me permitiu segurá-lo um pouquinho...
Um beijo roubado pouco antes de vê-lo partir...
Mas, tudo valeu a pena... valeu cada segundinho... e continua valendo cada dia da minha vida...

Eu costumava cantar pra ele... entre tantas músicas... havia uma que cantava todos os dias... e foi a mesma que tocamos no funeral dele... “Se eu não te amasse tanto assim”
As cinzas foram jogadas no mar... numa costeira perto de casa, que chamo de
"A Terra do Nunca" (a foto acima)... (filme que espelha tudo que prometi oferecer a ele)...



A mamãe prometeu levar o Rafa para ver a praia... pena que não foi da forma que ela queria... mas, ela cumpriu sua palavra...

Se um dia você encontrar alguém que precise de força para lutar pelo que quer que seja... não deixe de lembrar de mim... e pedir para que essa pessoa lute muito pelos seus sonhos... porque Deus pode realizá-los... não importa por quanto tempo... pois a felicidade e a vida são momentos para se desfrutar com toda a intensidade do mundo...

* Ao compartilhar nossa história, a intenção não é de que as pessoas
sintam pena ou admiração... e sim, que enxerguem força e coragem ... percebendo que jamais devemos desistir de nossa caminhada...
Compartilhar experiências... amor e fé... é o que me faz levantar todas as manhãs e faz valer a pena cada lágrima derramada!!!